segunda-feira, 15 de junho de 2009

a rede

Vídeo produzido pelo coletivo ABD-PB
Gravado em João Pessoa, PB, em 31/01/2009
Programa Ponto Brasil, TV Brasil

"O leito obriga-nos a tomar seu costume, ajeitando-se nêle, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rêde toma o nosso feito, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia a forma do nosso corpo. A cama é hirta, parada, definitiva. A rêde é acolhedora, compreensiva, coleante, acompanha, tépida e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do nosso sossêgo. Desloca-se, encessantemente renovada, à solicitação física do cansaço. Entre ela e a cama, há a distância da solidariedade à resignação".

"A poesia valoriza as coisas vulgares. Mesmo injustamente vulgares ou tornadas banais pela visão diária. Os romanos diziam que quotidiana vilescunt e há muita verdade miúda no reparo. Nunca pensei, menino-menino, que minha rede de dormir valesse imagem. Foi uma surpresa quando, decorando o "Minha Terra" de Casemiro de Abreu, versinho mavioso de 1856, deparei:
Nos galhos da supucaia
Nas horas do sol ardente,
Sobre um sol d'açucenas
Suspensa a rede de penas
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente."

Textos extraídos do livro “A Rede de Dormir: Uma Pesquisa Etnográfica” - Luís da Câmara Cascudo

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